São quase 30 horas de voo do Brasil até Singapura. Tempo suficiente para refletir sobre uma pergunta que me intriga: por que os maiores eventos de cripto migraram dos Estados Unidos para a Ásia?

Enquanto Trump promete tornar os EUA a capital cripto do mundo, estou escrevendo isso de um país onde 24,4% da população já possui criptomoedas e reguladores trabalham lado a lado com empresas. Os números contam uma história diferente do discurso.

Os Números Não Mentem

Você precisa ver estes dados. Em 2021, apenas 11% dos singapurianos tinham criptomoedas. Hoje, esse número mais que dobrou para 24,4%.

Não é só Singapura. A região Asia-Pacific (APAC) inteira registrou crescimento de 69% no valor de transações cripto no último ano: de US$ 1,4 trilhão para US$ 2,3 trilhões.

Volume total de transações com stablecoin mensais. Fonte: The 2025 Global Adoption Index, Chainalysis, Sep 2025

Enquanto isso, os EUA tiveram crescimento de 220% desde 2019, impressionante, mas a Ásia já partiu de uma base muito maior.

Os Emirados Árabes Unidos lideram globalmente com 25,3% de adoção. Singapura vem logo atrás. Doze dos 30 países com maior adoção estão na Ásia.

Mas aqui está o que mais me chama atenção: não é só sobre preço. É sobre utilidade real.

Em Singapura, você encontra restaurantes, lojas e serviços que aceitam Bitcoin e outras moedas como pagamento.

Não é marketing, é rotina. Caminho pelas ruas de Marina Bay e vejo placas discretas indicando “Bitcoin accepted here”.

Compare isso com o Brasil, onde ainda lutamos para ter regulação clara sobre o que pode ou não pode ser feito com cripto.

Quando Regulação Vira Vantagem

A diferença entre Singapura e outros mercados não está nos discursos, mas na implementação prática.

A Autoridade Monetária de Singapura (MAS) desenvolveu o Project Guardian, uma iniciativa que reúne mais de 40 instituições financeiras e reguladores de sete jurisdições para testar tokenização de ativos em ambiente controlado.

Os resultados são mensuráveis: mais de 15 testes industriais já foram conduzidos em seis moedas diferentes.

Instituições como Citi, HSBC, Standard Chartered e UOB formaram o Guardian Wholesale Network para avançar com a comercialização dessas soluções.

O país também criou uma rede de testes SGD (SGD Testnet) onde bancos podem experimentar transações com moeda digital do banco central, oferecendo um ambiente seguro para inovação.

Esta abordagem pragmática gerou resultados concretos: US$ 742 milhões em investimentos Web3 captados em 2024, representando 64% de todo o funding de FinTech local.

Mais de 300 empresas Web3 já estabeleceram operações aqui.

Para você entender: empresas Web3 são aquelas que constroem produtos e serviços usando blockchain como infraestrutura central – exchanges descentralizadas, protocolos de DeFi, plataformas de NFTs, carteiras digitais, soluções de pagamento cripto.

Pense na diferença entre uma empresa tradicional que aceita pagamento com cartão de crédito versus uma que nasce digital e opera nativamente em blockchain.

Exemplos locais incluem Crypto.com (exchange), Nansen (analytics blockchain) e Pendle Finance (protocolo DeFi).

O ecossistema é suportado por mais de 30 fundos de venture capital ativos na região, criando um círculo virtuoso entre regulação clara, capital disponível e empresas inovadoras.

A lição é simples: marcos regulatórios bem definidos tendem a atrair, não afugentar, a inovação institucional.

O Êxodo Invisível dos Talentos

Existe uma migração acontecendo que poucos percebem: 1 em cada 3 desenvolvedores blockchain agora está na Ásia.

Há 10 anos, a América do Norte dominava essa estatística.

Hoje, a Ásia concentra a maior parte dos “builders” (pessoas que efetivamente constroem as soluções em cripto).

Os números do 2024 Web3 Developer Report mostram algo revelador: enquanto os EUA viram sua participação global de desenvolvedores blockchain cair de 38% para 19% entre 2015 e 2024, a Ásia seguiu crescendo de forma consistente.

Não é coincidência que eventos como a Token2049, onde estou agora, atraiam 25 mil pessoas para Singapura na mesma semana da Fórmula 1. Antigamente, a Consensus em Nova York era considerada o maior evento cripto do mundo.

O que mudou?

Onde estão os palestrantes de maior relevância, lá está o capital, o talento e as decisões estratégicas.

A Índia lidera o recrutamento de novos desenvolvedores cripto globalmente. Vietnã tem 17 milhões de pessoas com ativos digitais, movimentando cerca de US$ 105 bilhões anuais. O Paquistão saltou da 10ª posição para a 4ª no ranking global de adoção.

Esta mudança não é apenas geográfica.

É estrutural.

Desenvolvedores seguem ecossistemas que oferecem clareza regulatória, incentivos fiscais e mercados em expansão.

O resultado prático?

Solana cresceu 83% em base de desenvolvedores no último ano. Ethereum continua dominante, mas novos ecossistemas como Base também ganham tração significativa.

Vantagem Fiscal Real

Esse é um fator que frequentemente passa despercebido nas análises: o ambiente tributário.

Em Singapura, não há imposto sobre ganhos de capital em criptomoedas. Se você compra Bitcoin como investimento pessoal e vende com lucro, não paga imposto sobre esse ganho.

Compare isso com a complexidade fiscal de outros mercados.

No Brasil, por exemplo, você precisa declarar cada operação acima de R$ 35 mil e pagar 15% sobre lucros mensais superiores a R$ 35 mil.

A regra singapuriana é simples: apenas atividades classificadas como “negócio” são tributadas. O IRAS (equivalente à Receita Federal local) avalia fatores como frequência de transações, período de holding e sistematização das operações.

Para empresas, o impacto é ainda maior.

Staking rewards acima de SGD 300 anuais devem ser declarados, mas a tributação corporativa permanece competitiva, especialmente para empresas de tecnologia.

Esta simplicidade fiscal não é acidente. É estratégia deliberada para atrair capital internacional e empresas de cripto.

O resultado é que 73% dos holders locais mantêm investimentos há mais de um ano, indicando perspectiva de longo prazo, não especulação.

Instituições como o DBS Bank reportaram crescimento de 80% nos serviços de custódia de ativos digitais.

Até empresas tradicionais como a Grab integraram carteiras Web3 aos seus serviços.

Clareza fiscal reduz fricções operacionais e permite foco na construção de valor, não na navegação burocrática.

O Quadro Completo

Estes não são apenas números impressionantes ou políticas bem intencionadas.

São evidências de um ecossistema que funciona na prática, onde regulação clara atrai capital, talento e inovação.

Enquanto acompanho a Token2049 aqui em Singapura, fica evidente que a liderança não vem de promessas, mas de frameworks consistentes implementados ao longo dos anos.

A combinação de regulação pragmática, incentivos fiscais e ambiente de testes controlados criou um círculo virtuoso.

A região APAC deve continuar crescendo 41,2% ao ano até 2030 segundo projeções do setor Web3. Não é especulação, é consequência de políticas públicas que entendem blockchain como infraestrutura, não como ameaça.

A Ásia demonstra como regulação clara e incentivos adequados criam ecossistemas prósperos. Uma lição valiosa sobre onde o mercado pode se dirigir.

OS NOVOS BITCOINS

Se você não ficou rico com Bitcoin, essa é sua chance. Uma nova classe de moedas está subindo

09/09 às 19h

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Radar de Mercado

Bitcoin sofre liquidações de US$ 1,8 bilhão em correção técnica

Mais de 370 mil traders foram liquidados quando BTC caiu abaixo de US$ 112 mil.

Por quê: Excesso de alavancagem em altcoins criou efeito cascata e Ethereum perdeu US$ 500 milhões, mais que o dobro do Bitcoin.

Como isso afeta você: Correções de 9,5% ainda são rasas comparadas aos ciclos anteriores.

Historicamente, setembro é desafiador para BTC (quedas em 8 dos últimos 13 anos), mas outubro costuma ser positivo. Pode ser momento para rebalanceamento de portfólio.

Stablecoins registram entrada recorde de US$ 46 bilhões no trimestre

USDT liderou com US$ 19,6 bilhões, seguido por USDC (US$ 12,3 bi) e USDe da Ethena (US$ 9 bi). Por quê: crescimento de 324% versus trimestre anterior indica “dinheiro seco” (capital disponível que ainda não foi investido) entrando no mercado.

Como isso afeta você: Influxo massivo de stablecoins normalmente precede rallies significativos.

Investidores estão posicionando capital para aproveitar oportunidades futuras.

Citi projeta mercado de stablecoins de US$ 4 trilhões até 2030

Relatório “Stablecoins 2030” prevê crescimento explosivo com velocidade 50x maior que sistema tradicional. Por quê: digitalização do dinheiro está no seu “momento ChatGPT” – aceleração súbita de adoção.

Como isso afeta você: Tokens bancários podem superar stablecoins em volume institucional. Empresas buscam programabilidade e compliance automático.

Trump lucra US$ 1 bilhão com portfólio cripto

O presidente americano teve ganho bilionário concentrado no World Liberty Financial (WLF), projeto que se posiciona como “banco descentralizado”. Por quê: o próprio Trump criou dois tokens – WLFI (token de governança) e USD1 (stablecoin) – que se valorizaram pela associação direta ao nome Trump, não apenas por mérito técnico.

Como isso afeta você: demonstra como figuras públicas legitimam o setor, potencialmente atraindo mais capital institucional e regulação favorável.

Mas apostar em tokens específicos de políticos carrega riscos regulatórios e de reputação elevados.

Por hoje é isso.

Obrigado pela leitura.