Superstições de mercado vs. o que realmente importa pro seu portfólio
Vivemos em uma simulação?
Eu não acreditaria nisso se não tivesse visto com meus próprios olhos.
Bitcoin quase entrou em bear market na semana passada. Testou 103 mil dólares. E então Trump “salvou” o mercado. De novo.
Bolsas voltaram às máximas. Bitcoin se recuperando.
E aí começou a circular um perfil que mapeou um roteiro de 10 passos das tarifas. O interessante? O script se encaixou quase perfeitamente em cada etapa desse mês. Tweet enigmático, anúncio de tarifas, correção, recuo, recuperação.
Coincidência ou estratégia?
Bom, na minha opinião, não tem nada de simulação ou teoria da conspiração. É simplesmente estratégia de negociação. Trump, assim como outros líderes mundiais, sempre vai buscar alavancagem para chegar na mesa e negociar.
Mas tem um ponto mais importante aqui: Uptober não foi tão “up” assim. E isso nos ensina algo sobre separar superstições de mercado do que realmente importa.
Então vamos olhar para o que está acontecendo de fato. E principalmente: o que dá pra esperar até o fim do ano.
Uptober não foi tão “Up” assim
Superstições São Confortáveis. Mas Não Pagam Contas. Vamos falar sobre o Uptober.
Embora o mês ainda não tenha acabado, ele está mais morno do que os outubros passados.
Se você pegar o gráfico de retornos mensais do Bitcoin lá na Coin Glass, vai ver que outubro historicamente tende a ser positivo. Mas esse ano? Nem tanto.

E sabe qual é o ponto aqui?
A gente tem retornos históricos, sim. Mas o Bitcoin não vai seguir cegamente esse mesmo perfil, esse mesmo padrão. É como esperar que todo domingo faça sol porque nos últimos três domingos fez.
Lembra de setembro? Era conhecido como o pior mês da história do Bitcoin. E olha só: acabou fechando no positivo. Quebrou o padrão novamente.
Outubro pode fechar no negativo. Pode fechar próximo do zero a zero. E tudo bem.
Isso aqui não é pra te desanimar. É pra você deixar de lado as superstições do mercado.
Porque o que realmente importa não é um mês isolado. É o trimestre. E historicamente, o último trimestre do ano é muito positivo para Bitcoin.
Ainda não tivemos isso especificamente em outubro, mas o cenário está montado para o quarto trimestre como um todo.
A gente ainda tem uma perspectiva muito boa para novembro e dezembro.
Por quê? Vários fatores:
- Liquidez aumentando com cortes de juros
- Fundamentos estruturais intactos
- Adoção institucional crescendo
Então para de olhar pro calendário como se fosse horóscopo. Outubro morno não muda a tese. Setembro negativo virar positivo também não mudou.
O que muda a tese são os fundamentos. E eles continuam sólidos.
Inclusive, quer ver um exemplo perfeito de como o ruído de curto prazo distorce sua visão? Vamos falar dos 10 passos das tarifas.
Os 10 passos das tarifas e o roteiro que se repete
Agora vamos dissecar o que aconteceu esse mês. Porque isso aqui é importante pra você entender a diferença entre ruído e fundamento.
Um perfil mapeou 10 passos das tarifas do Trump.
We’ve spent the last 10 months analyzing EVERY single tariff development:
Here’s the EXACT playbook for investors.
1. Trump puts out cryptic post on tariffs coming for a specific country or sector, markets drift lower
2. Trump announces large tariff rate (50%+) and markets…
— The Kobeissi Letter (@KobeissiLetter) October 12, 2025
E o roteiro se encaixou quase perfeitamente em cada nova etapa da queda de braço comercial dos Estados Unidos.
Olha só como foi:
Passo 1: Trump faz um post enigmático sobre tarifas vindo para determinado país ou setor.
Foi exatamente isso que desencadeou o crash no dia 10 de outubro. Um post sobre a China.
Passo 2: Trump anuncia tarifas substanciais contra aquele país e os mercados corrigem fortemente.
Na tarde de sexta, dia 10, ele anunciou 100% de tarifas contra a China. Bitcoin foi direto pra casa dos 103 mil dólares.
Passo 3: Acontece o buy the dip, mas ele não se sustenta sozinho e vamos para novas mínimas.
E o Bitcoin? Cai, se recupera, mas tem um novo teste das mínimas antes de subir. É exatamente aqui que o smart money entra.
Passo 4: Depois do fechamento do mercado na sexta, Trump redobra a pressão.
Passo 5: No sábado, o alvo da tarifa responde. A China respondeu.
Passo 6: No domingo, antes da abertura dos futuros, Trump publica um anúncio dizendo que está trabalhando numa solução.
Passo 7: Os futuros abrem em forte alta no domingo às 18 horas, mas começam a perder força na abertura de segunda-feira.
Passo 8: Depois da abertura da segunda, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, aparece na TV ao vivo e tranquiliza os investidores.
Passo 9: Nas próximas duas a quatro semanas, vários membros da administração Trump provocam um acordo comercial. Isso tranquiliza o mercado.
Passo 10: Trump anuncia um novo acordo comercial e o mercado de ações atinge novo recorde.
Até agora, tudo conforme o script.
Trump deixou claro que pretende fazer um acordo com a China. As tarifas de 100% provavelmente não vão vingar. Ele só estava buscando alavancagem para negociação.
E, surpresa: bolsas voltam às máximas. Bitcoin se recupera.
Aqui está o ponto crucial
Não fosse esse evento do Trump com as tarifas e esse vai e volta, a gente não teria tido aquele flash crash. E o Bitcoin provavelmente estaria muito mais próximo, até acima da sua máxima histórica.
Entende a diferença?
As circunstâncias afetam o momento. Elas não mudam necessariamente o fundamento ou a direção de longo prazo. Mas elas afetam o curto prazo.
E se você ficar tentando olhar para o micro, tentando reagir a cada tweet, a cada anúncio, você vai acabar tomando a decisão errada.
São já inúmeros capítulos como esse na saga das tarifas só em 2025. E se formos nos desesperar por todos eles, o resultado é só um: fazer trades errados.
Claro, nenhuma estratégia é infalível e o script pode não se repetir novamente.
Mas muito provavelmente trata-se de um padrão de comportamento americano que devemos estar atentos.
E, mais uma vez, o Bitcoin respeita a sua linha de tendência de alta de longo prazo, permanecendo em bull market estrutural.
É como ondas na superfície do oceano. Parecem dramáticas quando você está dentro da água. Mas a maré? A maré continua a mesma.
O que esperar do FED
Agora, vamos falar do que realmente importa nos próximos meses: o Fed.
Esta semana, teremos a reunião do FOMC (Federal Open Market Committee) pra decidir os juros nos EUA. E o que a gente pode esperar aqui é a continuidade do corte de juros.
O mercado ainda está precificando mais cortes de juros para 2025 e 2026. E isso é bom.
Mas tem um detalhe importante: a gente está tendo shutdown no governo americano devido ao teto de gastos. Com isso, estamos há algumas semanas sem informação de vários dados macroeconômicos que não foram divulgados.
O que tivemos recentemente foi o CPI, a inflação. E ele veio abaixo das expectativas.
Isso mostra que ainda tem caminho para o Fed cortar juros. Com tudo isso, existe um caminho de maior liquidez no sistema.
Esse é o principal a se esperar.
Porque o corte de juros funciona assim: quando o Fed reduz os juros, fica mais barato pegar dinheiro emprestado. Empresas conseguem investir mais. Pessoas conseguem gastar mais. E todo esse dinheiro circulando? Parte dele vai pra ativos de risco. Como Bitcoin.
É tipo soltar a válvula de pressão de uma panela. Não faz barulho. Não é dramático. Mas muda tudo.
Agora, um ponto importante: corte de juros nunca bate imediatamente na economia. Tem um lag, um atraso. Mas tem um efeito positivo para os meses à frente.
Então, enquanto todo mundo está olhando pro Trump tweetando, pro Bitcoin oscilando 5% pra cima ou pra baixo, o Fed está quieto no canto dele fazendo o que realmente move o jogo: injetando liquidez no sistema.
E liquidez, historicamente, é combustível pra ativos de risco.
Expectativas até o fim do ano
O Jogo Está Se Definindo Agora
Então, o que realmente dá pra esperar pro fim de ano?
A gente ainda acredita que tem um cenário positivo pela frente.
Por quê? Porque o ciclo de quatro anos do Bitcoin continua mostrando divergências em relação ao que foi em 2024.
Isso significa que temos grandes chances de ter movimentos diferentes do que vimos no ano passado.
E, com isso, existe a expectativa de que talvez o Bitcoin continue subindo até 2026.
Historicamente, os ciclos de halving seguem um padrão: ano do halving (2024), ano seguinte explode (2025), e às vezes se estende pro segundo ano (2026).
Mas cada ciclo tem suas particularidades.
Esse ciclo tem particularidades fortes:
- Adoção institucional via ETFs
- Liquidez global em expansão
- Política monetária mais flexível
- Trump com postura pró-cripto
Então não é loucura imaginar que esse ciclo se estenda mais do que os anteriores.
Mas atenção aqui
É bem importante você estar ligado nos movimentos do fim desse ano. Porque eles podem definir o jogo.
Se o Bitcoin conseguir fechar 2025 acima dos 120 mil dólares, por exemplo, muda completamente a narrativa pra 2026.
Se fechar lateral, consolidando entre 100-110 mil, é outro cenário. Se romper pra baixo dos 95 mil e perder a linha de tendência, aí sim a gente precisa reavaliar.
Os próximos dois meses não são só mais dois meses. São os meses que vão definir se entramos em 2026 com força ou com incerteza.
Você não pode controlar o Trump tweetando. Não pode controlar o Fed. Não pode controlar se a China vai responder ou recuar.
Mas você pode controlar se está posicionado quando os fundamentos convergirem.
E os fundamentos? Continuam apontando pra cima.
Conclusão
Então, voltando à pergunta inicial: vivemos numa simulação?
Não.
A gente vive num mercado onde ruído político é usado estrategicamente. Onde tweets movem bilhões no curto prazo. Onde o teatro das tarifas se repete em 10 passos previsíveis.
Mas o que separa quem ganha dinheiro de quem perde: entender que as ondas não definem a maré.
Uptober morno não muda os fundamentos. Os 10 passos das tarifas não mudam a direção de longo prazo.
O Fed cortando juros, liquidez aumentando, adoção institucional crescendo, Bitcoin respeitando sua linha de tendência de alta – isso sim define o jogo.
Você pode escolher reagir a cada tweet. Ou pode escolher entender o roteiro e se posicionar adequadamente.
No fim, não são os tweets que definem o jogo. São os fundamentos. E eles continuam do nosso lado.
Radar de Mercado
O Que Você Precisa Acompanhar Essa Semana
Essa semana vem carregada. Vários eventos que podem adicionar volatilidade ao mercado. Vamos aos principais e, mais importante, por que eles importam pra você:
1. Decisão de juros pelo Fed (28-29/out)

A reunião do FOMC começou hoje, terça-feira (28). Segundo o CME FedWatch, há 96,7% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual na quarta (29).
Isso levaria a taxa básica de juros americana pra faixa entre 3,75% e 4% ao ano, abaixo da faixa atual de 4% a 4,25%. Seria o segundo corte de juros do Fed em 2025.
O contexto: a decisão acontece com apagão quase total de dados econômicos por causa do shutdown do governo. O único indicador relevante foi o CPI (inflação) de setembro, que veio a 3% ao ano, levemente abaixo do esperado.
Como isso te afeta: Corte confirmado = mais liquidez nos próximos meses = bom para o mercado cripto.
2. Encontro Trump x Xi Jinping (30/out)

Os presidentes dos EUA e da China devem se encontrar nessa quinta-feira (30). A pauta principal: tarifas, exportações agrícolas e restrições a terras raras.
Esse encontro pode definir se o script dos 10 passos se repete novamente ou se realmente teremos um acordo estruturado.
Como isso te afeta: Acordo real = menos volatilidade geopolítica. Recuo = mais uma rodada do teatro das tarifas.
3. Lançamento de ETFs de Solana, Litecoin e Hedera

As gestoras Bitwise, Grayscale e Canary vão lançar os primeiros ETFs dessas três criptomoedas nos EUA a partir desta terça-feira (28).
Como isso te afeta: Mais produtos institucionais = mais validação do mercado cripto = mais capital entrando. Cada novo ETF abre portas para investidores tradicionais.
Fico por aqui, até o próximo Block Times!